Tradições do Terreiro


Umbanda-Macumba

A Umbanda não foi fundada no dia 15 de novembro de 1908 por Zélio Fernandino de Moraes. A Umbanda não foi “fundada”. A Umbanda foi construída ao longo dos anos com a diáspora africana no Brasil e não possui origem datada, sendo um rico produto das manifestações bantu-angolesas, da pajelança, dos calundus, dos catimbós, da cabula e da macumba. O fundamento principal de nossa prática é a crença na relação entre o Mundo Visível e o Mundo Invisível, entre o Mundo dos Vivos e o Mundo dos Mortos, que podem auxiliar os vivos através de conselhos e tratamentos espirituais.

A Umbanda, além de ser esse rico produto de manifestações afro-indígena-brasileiras, é uma “filha” direta da Macumba e, a partir dela, passou por um embranquecimento progressivo e ainda crescente como uma forma de aceitação social. Esse embranquecimento culminou na criação do mito de fundação da Umbanda por Zélio Fernandino de Moraes, até então um médium espírita kardecista. Por isso, em nosso terreiro afirmamos resgatar a antiga Macumba, ou seja, uma Umbanda antes de Zélio.

A palavra Macumba têm origem na palavra “makiumba”, que é a pluraridade de “kiumba”, que significa “espírito”, ou seja, “makiumba” é a palavra bantu para “espíritos”. Essa palavra então ressalta o foco do trabalho umbandista: os espíritos. Dessa forma, não consideramos a palavra “macumba” meramente preconceituosa, sendo necessário uma ressignificação dessa palavra por parte dos povos de terreiro.

Catimbó-Jurema

O culto de Catimbó-Jurema têm como principal fundamento a árvore de nome Jurema. É a Jurema, que através de sua ingestão e de seu estudo, traz a ciência espiritual das cidades encantadas de seu tronco. Em nossas práticas de Jurema, trabalhamos com espíritos diversos: desencarnados, encantados, espíritos da Natureza e Mestres. Todos com capacidade de ensinar, curar e transmitir ciência através do transe da Jurema ou de sua própria manifestação através do médium.

O poder espiritual e curador da Jurema encontra-se também evidenciado pela própria bioquímica da planta que possui N,N-dimetiltriptamina (DMT), uma triptamina responsável pelo efeito serotoninérgico, também presente no chá da Ayahuasca. Nossos indígenas nordestinos descobriram os poderes da Jurema e passaram a cultuá-la, juntamente com os seus encantados.

Com a chegada dos portugueses e africanos no Brasil, a Jurema passa por um profundo sincretismo, sendo atualmente, considerada por historiadores, uma prática afro-branca-indígena, tendo, inclusive, fortes influências do catolicismo popular e da pajelança.

Os nossos trabalhos de Catimbó-Jurema são fechados aos médiuns do terreiro, que podem no decorrer de sua caminhada mediúnica se dedicarem e realizarem tombamento na Jurema.

Os trabalhos de Jurema abertos são conduzidos por representantes dos povos Fulni-Ô e Kariri-Xocó em nosso terreiro.

Pajelança e Encantaria

A pajelança é uma prática espiritual, originada de rituais xamânicos indígenas, voltada para o tratamento de doenças físicas e espirituais com o auxílio de espíritos encantados e das plantas sagradas disponíveis na Natureza. Podemos dizer que a pajelança é o encontro do homem com as energias da Natureza e os encantados. Em nosso terreiro, estudamos a pajelança maranhense e amazônica, além da pajelança presente no próprio culto de Catimbó-Jurema; e realizamos trabalhos espirituais de Encantaria e consagramos de plantas de poder como a Jurema, a Ayahuasca, o Rapé e o Tabaco.